SINAIS MÁGICOS

segunda-feira, 11 de julho de 2011

HISTÓRIA CULTURAL: REFLETINDO NAS DIFERENÇAS CULTURAIS SURDAS NA HISTÓRIA DE EDUCAÇÃO. Por Prof. Karin Strobel

A sociedade impõe limites, Mas isso não significa que a cultura surda Não tenha permissão para se  desenvolver. Jonna Widell
As Informações históricas relativas a fatos como a chegada dos portugueses ao Brasil ou a abolição da escravatura são de fácil acesso em documentos. Nesses registros, no entanto, só se encontram versões oficiais. Existem muitas outras fontes importantes omitidas, no entanto, o que pensavam os índios e os escravos nesses momentos históricos? São poucos os documentos que trazem a ‘voz’ desses dois grupos.
Isto ocorre o mesmo com o povo surdo, a história que surgiu é a história feita segundo sujeitos ouvintes elogiando professores ouvintes pela iniciativa de trabalhos com os surdos e pela tecnologia oralista. Onde está a história das associações de surdos? De professores surdos? De sujeitos surdos bemsucedidos?
Da pedagogia surda? A história cultural de surdos quase nunca lhes é contada, visto que este seria um passo importante para a legitimação do modelo cultural do ‘Ser Surdo’. Conforme Wrigley (1996, p. 38):
Pintar psicohistórias de grandes homens lutando para obter um lugar na história das civilizações dos que ouvem tem pouco ou nada a ver com representar as circunstâncias históricas das pessoas Surdas vivendo à margem daquelas sociedades que ouvem. A votação do Congresso de Milão provocou um "rombo" que ocasionou uma queda na educação de surdos e agora os povos surdos estão criando forças e ânimo para levantarem-se e lutarem pelos seus direitos à educação. A língua de sinais esteve proibida por mais de 100 anos, mas sempre esteve viva na mente dos povos surdos até hoje; no entanto, o desafio é mudar a
história dos surdos. Antes do Milão houve muitos professores surdos, escritores surdos, artistas surdos, líderes e militantes das comunidades surdas que é de extrema importância pesquisarmos e registrarmos.
Vou citar alguns exemplos e almejo que os povos surdos continuem registrando outros exemplos para enriquecer a história cultural. Um dos mais brilhante professor surdo da história cultural dos surdos é o
Ferdinando Berthier, ele nasceu no ano de 1803 em cidade de Louhans, França. Iniciou a educação com 8 anos em Instituto Nacional de Jovens Surdos- Mudos de Paris - INjS e depois de se formar passou a lecionar no mesmo local durante mais de 40 anos. Enquanto foi professor de surdos o seu método de
ensino tinha por base a identidade surda e língua de sinais. Berthier escreveu vários livros e artigos de história de surdos, defendendo o povo surdo, a língua de sinais, a cultura surda, a educação, sobre artistas surdos e determinados surdos que fazem a poesia em LSF (Língua de sinais francês), também relatou as atrocidades cometidos pelo Povo Esparta contra o Povo Surdo, comentou que o Congresso de Milao “é um catástrofe para as pessoas surdas de França se as decisões forem aplicadas”. e outros2, a obra escrita que mais foi destacado foi a biografia de L’Epeé “Um surdo antes e depois do abade L’Epeé”, que resultou o oferecimento de um prêmio especial que era dado anualmente aos sujeitos lustres da sociedade francesa: ao L’Epeé. Em 1834, com seus companheiros surdos, Lenoir, Forestier (que depois dessa época foi diretor de escola de surdos em Lyon), criaram uma comitê de surdos-mudos. Dentre os dez membros desse comitê estava o Frederic Peysson de Montpelier, um pintor destacado que pintou alguns anos depois um quadro “Os últimos momentos de l’Epee” e o italiano Torino Mosca, também pintor. Neste comitê decidiram organizar todos os anos um banquete dos surdos-mudos para homenagear ao abade L’Epée, que foram de grandes sucessos e com isto nasceu o ‘movimento de surdos’.
2 (para saber mais ler o artigo publicado no site: http://143.106.58.55/revista/viewarticle.php?id=126&layout=abstract ) Participavam neste banquete muitos surdos estrangeiros, de Itália, Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos, entre eles estavam o John Carlin (aluno de Laurent Clerc) e outros.
Fonte: FISCHER, Renate & LANE, Harlan (eds.) Looking Back – International Studies on Sign Language and Communication of the Deaf. SIGNUM PRESS. 1993. v.20
O Berthier e seus companheiros criaram a primeira Associação de Surdos visando recolher sujeitos surdos, da qual se originaram outras no mundo todo. Recebeu o prêmio French Legion of Honor (Legião de Honra Francesa). O interessante é que através de relatos de Berthier notamos que muitos dos nomes que foram aclamados na história de surdos como heróis salvadores de povos surdos eram por ele considerados plagiadores e outras vezes charlatões, mas enaltece o L”Epée, embora não concorde com alguns feitos do mesmo, vemos a seguir a citação dele (apud NASCIMENTO): Até então, como eu já havia explicado, todos os educadores de surdos interpretavam o princípio que “nossa mente não contém nada que não chegou lá através dos sentidos” como se seu único trabalho fosse dar a estes desafortunados o uso mecânico da fala.
Ao contrário, l'Epée foi o primeiro a vislumbrar na linguagem mímica ainda imperfeita deles, meios mais seguros e simples de comunicação e uma mais direta e clara tradução de pensamento. (2006, p. 256)
Outro surdo, o Pierre Pelissier, além de professor da Instituição Imperial de Paris, também era um poeta e membro ativo da “Sociedade Central de Educação de Assistência aos Surdos-Mudos”. Foi ele quem elaborou um manual de sinais, a “iconografia de sinais”, que mais tarde no ano de 1875, foi reproduzida pelo surdo brasileiro Flausino de Gama.

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