SINAIS MÁGICOS

sábado, 30 de julho de 2011

SINAIS MÁGICOS: LS Fluência

SINAIS MÁGICOS: LS Fluência: "Já está em pleno funcionamento a empresa LS Fluência. Para empresas e grupos que queiram aprender a Língua Brasileira de Sinais podem conta..."

LS Fluência

Já está em pleno funcionamento a empresa LS Fluência.
Para empresas e grupos que queiram aprender a Língua Brasileira de Sinais podem contar com uma equipe de profissionais habilitados que estarão preparando aulas específicas para cada turma.
www.lsfluencia.com.br
Entrem em contato, informem-se, divulguem... Vale a pena conhecer!!!!

quarta-feira, 27 de julho de 2011

SINAIS MÁGICOS: Dia do MOTOCICLISTA

SINAIS MÁGICOS: Dia do MOTOCICLISTA: "Parabéns a todos os motociclistas! Q possam ser comemorados muitos e muitos dias como este pelas estradas deste mundão!!! Seja em 2 ou 3 rod..."

Dia do MOTOCICLISTA

Parabéns a todos os motociclistas! Q possam ser comemorados muitos e muitos dias como este pelas estradas deste mundão!!! Seja em 2 ou 3 rodas...muitas aventuras e amizades!
Bjocas mil

segunda-feira, 25 de julho de 2011

SINAIS MÁGICOS: ENEL 2011

SINAIS MÁGICOS: ENEL 2011: "ENEL Goiânia foi um sucesso. Muitas pessoas, culturas, trocas de informações. Falhas? Claro que houve, mas nada que pudesse estragar o bril..."

ENEL 2011

ENEL Goiânia foi um sucesso.
Muitas pessoas, culturas, trocas de informações. Falhas? Claro que houve, mas nada que pudesse estragar o brilho dos participantes.
Que o ENEL 2012 venha com ainda maior brilho.
AMEI!!!!!

sexta-feira, 15 de julho de 2011

SINAIS MÁGICOS: ENEL 2011

SINAIS MÁGICOS: ENEL 2011: "A galerinha do Letras/LIBRAS UFSC está se preparando para embarcar para o 32 ENEL. Estamos ansiosos por novidades, aprender , conhecer e faz..."

ENEL 2011

A galerinha do Letras/LIBRAS UFSC está se preparando para embarcar para o 32 ENEL. Estamos ansiosos por novidades, aprender , conhecer e fazer amigos. Qdo voltarmos postarei aqui muitas, muitas novidades.
Bjocas mil

SINAIS MÁGICOS: Sobre a Educação

SINAIS MÁGICOS: Sobre a Educação: "Gostaria muito que todos opinassem sobre a educação, a greve, enfim, tudo que diz respeito a esta categoria tão desvalorizada, desrespeitada..."

Sobre a Educação

Gostaria muito que todos opinassem sobre a educação, a greve, enfim, tudo que diz respeito a esta categoria tão desvalorizada, desrespeitada e menosprezadas. Infelizmente, não só por políticos, mas também por alunos e pais de alunos.
Divulguem este blog, sigam-no e façam dele um canal para sua opinião ser vista.
Muito, muito obrigada!!!!
Bjocas mil

quarta-feira, 13 de julho de 2011

SINAIS MÁGICOS: Função

SINAIS MÁGICOS: Função Buscamos divulgar uma Comunidade, uma Cultura....que busca viver plenamente como cidadãos. Os Surdos tem uma Língua visuo-espacial; enquanto os ouvintes usam a voz, ou seja, uma língua oral, os Surdos utilizam as mão para comunicarem-se. Não existe nenhuma diferença, além da citada a cima, entre estas línguas. Ambas tem estruturas próprias e são estudadas pela gramática e pela linguística.
Queremos o respeito e a verdadeira inclusão das pessoas Surdas.

SINAIS MÁGICOS: Função

SINAIS MÁGICOS: Função: "Não estamos aqui apenas para `fatura`...queremos muito mais que isso. Buscamos divulgar uma Comunidade, uma Cultura....que busca viver plena..."

Função

Não estamos aqui apenas para `fatura`...queremos muito mais que isso. Buscamos divulgar uma Comunidade, uma Cultura....que busca viver plenamente como cidadãos. Os Surdos tem uma Língua visuo-espacial; enquanto os ouvintes usam a voz, ou seja, uma língua oral, os Surdos utilizam as mão para comunicarem-se. Não existe nenhuma diferença, além da citada a cima, entre estas línguas. Ambas tem estruturas próprias e são estudadas pela gramática e pela linguística.
Queremos o respeito e a verdadeira inclusão das pessoas Surdas.

SINAIS MÁGICOS: Professores

SINAIS MÁGICOS: Professores: "Estou inconformada com a falta de respeito para com os professores do estado de SC. Interessante os pais e alunos quererem aula (apoio); mas..."

Professores

Estou inconformada com a falta de respeito para com os professores do estado de SC. Interessante os pais e alunos quererem aula (apoio); mas pq não saíram em prol dos professores? Está sendo preciso ficar mais de 50 dias parados para chamar a tenção... Enquanto um concurso para Técnico Administrativo com ensino médio tem um salário inicial de mais de R$2 mil, os concursos para professores, com ensino superior o inicial é de R$ 800,00 em média. Até qdo isso vai continuar sem q a população se mobilize e apoie esta classe tão importante e necessária???? Estou indignada com a falta de respeito com os professores.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Língua Brasileira de Sinais I Por Ronice Muller de Quadros, Aline Lemos Pizzio e Patrícia Luiza Ferreira Rezende

Propriedades das línguas e das línguas de sinais
Veja porque as línguas de sinais apresentam as propriedades das línguas humanas:
Propriedades das línguas humanas nas línguas de sinais
Flexibilidade e versatilidade
As línguas apresentam várias
possibilidades de uso em diferentes
contextos.
As línguas de sinais são usadas para pensar, são
usadas para desempenhar diferentes funções.
Você pode argumentar em sinais, pode fazer
poesia em sinais, pode simplesmente informar,
pode persuadir, pode dar ordens, fazer perguntas
em sinais.
Glosas em LIBRAS:
VOCÊ GOSTAR MAÇÃ.
VOCÊ sn
IX CASA DEFEITO EU PRECISO ARRUMAR
< PROJETO >to AULA EU APRESENTAR
Arbitrariedade
A palavra (signo lingüístico) é
arbitrária porque é sempre uma
convenção reconhecida pelos falantes
de uma língua.
As línguas de sinais apresentam palavras em que
não há relação direta entre a forma e o
significado.
Glosas em LIBRAS:
CONHECER
AMIGO
TRABALHO
Descontinuidade
Diferenças mínimas entre as palavras e
os seus significados são
descontinuados por meio da
distribuição que apresentam nos
diferentes níveis lingüísticos.
Na língua de sinais verificamos o caráter
descontínuo da diferença formal entre a forma e
o significado. Há vários exemplos que ilustram
isso, por exemplo, o sinal de MORENO e de
SURDO são realizados na mesma locação, com a
mesma configuração de mão, mas com uma
pequena mudança no movimento, mesmo assim
nunca são confundidos ao serem produzidos em
um enunciado. Tais sinais apresentam uma
distribuição semântica que não permite a
confusão entre os significados apresentados
dentro de um determinado contexto.
Glosas em LIBRAS:
TRABALHO
VIDEO-CASSETE
TV
MORENO-SURDO
2 Tradução realizada por Ronice Muller de Quadros. ASL é a abreviatura da língua de sinais americana.
Criatividade/produtividade Você
pode dizer o que quiser e de muitas
formas uma determinada informação
seguindo um conjunto finito de regras.
A partir desse conjunto, você pode
produzir uma sentença infinita nas
línguas humanas.
As línguas de sinais são produtivas assim como
quaisquer outras línguas.
Glosas em LIBRAS:
EU AMAR GISELE PORQUE ELA BONITA,
LEGAL, ESPECIAL, 1AJUDAR2, GOSTAR
TRABALHAR, INTELIGENTE ....
Dupla articulação
As línguas humanas apresentam duas
articulações: a primeira é das unidades
menores sem significado e a segunda,
das unidades que combinadas formam
unidades com significado.
As línguas de sinais também apresentam o nível
da forma e o nível do significado. Por exemplo,
as configurações por si só não apresentam
significado, mas ao serem combinadas formam
sinais que significam alguma coisa.
Exemplos em LIBRAS:
CM sem significado
L sem significado
M sem significado
CM+L+M = significado (L+bochecha+semicírculo
para trás)
Padrão
As línguas têm um conjunto de regras
compartilhadas por um grupo de
pessoas.
As línguas de sinais são altamente restringidas
por regras. Você não pode produzir os sinais de
qualquer jeito ao usar a língua de sinais
brasileira, por exemplo. Você deve observar suas
regras.
Exemplo em LIBRAS:
Obedecer às regras de formação de sinais e de
sentenças.
(ajudar com CM S – mostrar exemplos de sinais
com CM errada, ou L errada, ou M errado)
Dependência estrutural
Há uma relação estrutural entre os
elementos da língua, ou seja, eles não
podem ser combinados de forma
aleatória.
Também é observada uma dependência estrutural
entre os termos produzidos nas línguas de sinais.
Glosas em LIBRAS:
PAULO TRABALHAR+asp
*TRABALHAR+asp PAULO
SINAL BRASIL
*BRASIL SINAL

Língua Brasileira de Sinais I Por Ronice Muller de Quadros, Aline Lemos Pizzio e Patrícia Luiza Ferreira Rezende

LÍNGUA DE SINAIS É LÍNGUA
Texto obrigatório para a análise deste conteúdo:
QUADROS, R. M. de & KARNOPP, L. Língua de sinais brasileira: estudos
lingüísticos. ArtMed. Porto Alegre. 2004 – Capítulo 1
Quadros e Karnopp (2004:29-30) apresentam alguns autores que, depois de
Stokoe, reconheceram a língua de sinais no contexto das investigações lingüísticas,
conforme segue no quadro abaixo:
Hoje há uma quantidade razoável de investigações na área da lingüística, não apenas sobre a
estrutura, mas também sobre a aquisição, o uso e o funcionamento dessas línguas. Ao
discutir sobre a interface “articulatório-perceptual”, Chomsky (1995) reconhece tais
investigações:
A concepção de que a articulação e a percepção envolvem a mesma interface
(representação fonética) é controversa, os problemas obscuros relacionados à
interface C-I (conceptual-intencional) é ainda mais. O termo “articulatório” é tão
restrito que sugere que a faculdade da linguagem apresenta uma modalidade
específica, com uma relação especial aos órgãos vocais. O trabalho nos últimos
anos em língua de sinais evidencia que essa concepção é muito restrita. Eu
continuarei a usar o termo, mas sem quaisquer implicações sobre a especificidade
do sistema de output, mantendo o caso das línguas faladas. (Chomsky, 1995:434,
nota de rodapé 41)
Além disso, Saussure, citando Whitney, discute a questão articulatório-perceptual quando
refere:
(…) para Whitney, que considera a língua uma instituição social da mesma espécie
que todas as outras, é por acaso e por simples razões de comodidade que nos
servimos do aparelho vocal como instrumento da língua; os homens poderiam
também ter escolhido o gesto e empregar imagens visuais em lugar de imagens
acústicas. (Saussure, [1916] 1995, p. 17)
Mais adiante, Saussure coloca:
No ponto essencial, porém, o lingüista norte-americano nos parece ter razão: a
língua é uma convenção e a natureza do signo convencional é indiferente. A
questão do aparelho vocal se revela, pois, secundária no problema da linguagem.
(Saussure [1916] 1995, p. 18)
As línguas de sinais passam a integrar o contexto dos estudos lingüísticos. Ainda
destacamos as palavras de Ray Jackendoff, lingüista reconhecido nos estudos das
línguas no campo da sintaxe e da semântica:
A coisa mais importante que eu quero destacar é que ASL é uma língua. Claro, ela
parece ser completamente diferente de outras línguas já conhecidas como o inglês, o
russo e o japonês. Isso significa que a transmissão não é através do trato vocal
criando sinais acústicos que são detectados pelo interlocutor por meio da audição.
1 Tradução feita pelas autoras Quadros e Karnopp (2004).
Ao invés disso, os gestos do sinalizador criam sinais que são detectados pelo
interlocutor por meio do sistema visual. (…) O sistema periférico é diferente, mas a
atividade inerente é a mesma2.
(Jackendoff, 1994:83)

Língua Brasileira de Sinais I Por Ronice Muller de Quadros, Aline Lemos Pizzio e Patrícia Luiza Ferreira Rezende

As expressões faciais nas línguas de sinais
Para os usuários de línguas de sinais, as expressões faciais têm duas funções
distintas: expressar emoções (assim como nas línguas faladas) e marcar estruturas
gramaticais específicas (como orações relativas), servindo para distinguir funções
lingüísticas, uma característica única das línguas de modalidade visual-espacial.
A existência de duas classes diferentes de funções de expressão facial levanta
questionamentos acerca do controle neural da linguagem e de funções não-lingüísticas.
A observação de padrões neurais de expressões faciais para diferentes funções,
lingüística e afetiva, fornece uma perspectiva de determinantes para a especialização
dos hemisférios cerebrais.
As marcas lingüísticas e afetivas das expressões faciais se diferem na ASL de
várias maneiras. Existem pelo menos quatro distinções essenciais entre esses dois tipos
de expressão facial que marcam o uso diferente de uma mesma musculatura facial. São
elas:
(a) rápido início e compensação da ativação do músculo: as expressões faciais afetivas
são inconstantes e inconsistentes nos seus padrões de início e de compensação. Em
oposição, as expressões faciais lingüísticas na ASL são claras, rápidas e específicas em
seus padrões;
(b) músculos faciais individualizados: as expressões afetivas são globais e fazem uso de
um conjunto de músculos faciais, enquanto as expressões faciais gramaticais podem
escolher músculos faciais individuais que nunca são individualizados numa expressão
normal de emoção;
(c) escopo lingüístico: expressões afetivas podem ocorrer tanto antes como depois de
uma produção lingüística e não estão necessariamente associadas a um evento
lingüístico específico. Já as expressões faciais gramaticais estão intimamente ligadas
aos sinais manuais. O escopo da expressão lingüística facial demarca fronteiras
gramaticais pontuais.
(d) obrigatoriedade: as marcas lingüísticas faciais para a função específica a que
pertencem (orações relativas ou condicionais, por exemplo) são requeridas na ASL,
enquanto que a marca manual é opcional.
Sendo assim, o comportamento facial lingüístico na ASL constitui um conjunto
limitado de comportamentos categóricos ou discretos no qual componentes, escopo e
forma são regras governadas e impostas pelos requisitos do sistema lingüístico. Já os
comportamentos faciais afetivos são contínuos, mostrando larga variação ao longo de
todos estes parâmetros.
Serão relatados a seguir, os resultados de dois estudos sobre a produção de
expressões faciais em indivíduos surdos. No primeiro estudo, o interesse dos
pesquisadores era verificar se sinalizantes surdos mostravam assimetrias expressivas
similares em ambas as expressões faciais (lingüísticas e afetivas). Assim, avaliadores
ouvintes, sem familiaridade com língua de sinais, julgaram a expressividade e
intensidade dos dois tipos de expressões faciais através de composição de fotos de
sinalizantes exibindo tais expressões. No segundo estudo, foi examinada a produção de
expressões faciais em sinalizantes surdos lesionados cerebrais, tanto do hemisfério
esquerdo como do direito, para especificar os padrões das funções danificadas.
Em conjunto, estes estudos fornecem evidências de um controle hemisférico
diferente para a produção de expressões faciais em sinalizantes da ASL. Assim, os
dados indicam que para sinalizantes surdos as expressões faciais afetivas parecem ser
primariamente mediadas pelo hemisfério direito, enquanto as expressões faciais
lingüísticas envolvem a mediação do hemisfério esquerdo. Isto representa um resultado
importante, já que um único sistema muscular está envolvido em dois tipos
funcionalmente distintos de expressões faciais. Para as pessoas ouvintes, o hemisfério
direito parece ser o predominante para expressões faciais, mas para indivíduos surdos, a
especialização dos hemisférios é influenciada pelos propósitos a que servem os sinais.

Língua Brasileira de Sinais I Por Ronice Muller de Quadros, Aline Lemos Pizzio e Patrícia Luiza Ferreira Rezende

A questão do movimento nas línguas de sinais
Enquanto as pesquisas de aquisição de língua de sinais por crianças surdas
revelam que as características fundamentais desta língua visual-espacial independem da
modalidade, não podemos deixar de lado o fato de que, apesar disto, há uma diferença
entre línguas faladas e sinalizadas e que o padrão auditivo e o padrão visual entram no
cérebro por canais separados. Assim, POIZER e BELLUGI (1989) fazem a seguinte
pergunta: como, então, estes dois canais aparentemente diferentes para analisar padrões
sensoriais sustentam um sistema lingüístico comum? Para tentar encontrar uma
resposta, eles decidiram estudar as diferenças entre a maneira como sinalizantes e nãosinalizantes
percebiam movimento.
A hipótese dos pesquisadores era de que as experiências de uma língua visualespacial
podiam modificar a percepção dos elementos da linguagem da mesma maneira
que a experiência em uma língua falada modifica a percepção destes elementos. Para
isso, o primeiro passo foi isolar os movimentos dos sinais através de uma adaptação da
técnica desenvolvida para estudar como as pessoas percebiam movimentos do corpo
humano. Assim, eles colocaram nove pontos de luz (um na cabeça, um em cada ombro,
cotovelo, punho e ponta do dedo indicador) no corpo de um sinalizante vestido todo de
preto, fazendo movimentos em uma sala escura, para que fosse possível para
sinalizantes nativos identificar o caráter lingüístico dos movimentos feitos por outro
sinalizante. Com este sistema, seria possível estudar questões básicas sobre a relação
entre percepção de movimento e processamento de informação lingüística. Isto porque o
caráter espacial das línguas de sinais adiciona características à ASL, que possibilitam a
aplicação de vários processos gramaticais simultaneamente, através de movimentos.
Assim, os autores iniciaram sua busca por modificações perceptuais associadas à
experiência com a língua de sinais, utilizando o sistema com pontos de luz em
indivíduos ouvintes que não conheciam língua de sinais e com indivíduos surdos
sinalizantes desde a infância. Com esta técnica, apenas os pontos de luz eram visíveis.
Informações sobre configuração de mão, expressão facial ou outra informação visual
não eram percebidas. Os sujeitos viam os movimentos em grupos de três e deveriam
identificar os dois movimentos que fossem mais similares. Os pesquisadores, então,
aplicavam uma análise matemática complexa aos resultados que os fizessem identificar
certas características dos movimentos, as quais deveriam ser utilizadas pelos indivíduos,
tanto surdos como ouvintes, para distingui-los. Dentre estas características estão: a
direção, a extensão, a repetição e o plano dos movimentos.
Após a análise dos resultados, foram encontradas muitas diferenças entre surdos
e ouvintes no que se refere às características dos movimentos utilizados na avaliação de
similaridade realizada por eles. Entretanto, a maior diferença estava no padrão global
das características dos movimentos que os dois grupos de indivíduos acharam
importantes ao fazerem suas avaliações. As características dos movimentos que se
destacaram para os sujeitos ouvintes refletem uma predisposição natural para olhar os
movimentos humanos, enquanto aquelas que se destacaram para os usuários da ASL
representam um conjunto de efeitos desta predisposição e da experiência lingüística.
As alterações perceptuais, então, parecem ser a conseqüência usual de aquisição
de um sistema lingüístico formal, independentemente do modo de sua transmissão. Os
resultados encontrados pelos autores confirmam a hipótese por eles levantada: de que a
experiência modifica a percepção dos elementos da linguagem de acordo com a
modalidade.

Língua Brasileira de Sinais I Por Ronice Muller de Quadros, Aline Lemos Pizzio e Patrícia Luiza Ferreira Rezende

1. ORGANIZAÇÃO CEREBRAL NO USO DA LINGUAGEM
Textos obrigatórios para a análise deste conteúdo:
RODRIGUES, N. Organização neural da linguagem. Em Língua de sinais e educação
do surdo. Eds. Moura,M. C.; LODI, a. C. e PEREIRA, M. C. Sociedade Brasileira
de Neuropsicologia. SBNp. São Paulo. 1993.
EMMOREY, K.; BELLUGI, U. & KLIMA, E. Organização neural da língua de sinais.
Em Língua de sinais e educação do surdo. Eds. Moura,M. C.; LODI, a. C. e
PEREIRA, M. C. Sociedade Brasileira de Neuropsicologia. SBNp. São Paulo. 1993.
Segundo BELLUGI et. al. (1989), estudos sobre a organização cerebral indicam
que o hemisfério esquerdo é o responsável pelo processamento de informações
lingüísticas no modo auditivo-oral e que esta capacidade de analisar os sons é
determinante para este hemisfério ser o responsável pela linguagem. Já o hemisfério
direito é o responsável pelo processamento visual-espacial. Com base no exposto acima,
é possível questionarmos se o hemisfério esquerdo é restrito para a língua falada ou se é
a base de uma representação abstrata da forma lingüística, independente da modalidade.
Além disso, as mudanças que a experiência lingüística causa na percepção dos sons e
dos movimentos sugere que o uso da linguagem deve provocar grandes efeitos na
organização cerebral, inclusive que esta deve ser diferente para as línguas de sinais e
para as línguas faladas. Então, a pergunta que se faz é: Qual a relação existente entre os
hemisférios cerebrais e a língua de sinais?
Uma das formas de se aprofundar as especificidades de cada hemisfério é
através do estudo dos distúrbios da linguagem causados por lesão no cérebro, devido a
um AVC (acidente vascular cerebral) ou a um trauma. Os danos causados no hemisfério
esquerdo podem gerar transtornos na linguagem oral (afasia), enquanto os danos
causados no hemisfério direito normalmente não têm efeito sobre o uso da linguagem,
mas causam dificuldades na percepção espacial, sugerindo então que esta seja uma
especificidade deste hemisfério.
Sendo assim, a pergunta que se faz, conforme visto anteriormente, é se o
hemisfério esquerdo é responsável apenas pelas línguas faladas ou, ao contrário, é a
base de uma representação mais abstrata da forma lingüística, independentemente da
modalidade em que a linguagem é transmitida. Para respondê-la, BELLUGI et. al.
(1989) resolvem investigar na ASL como as funções dos dois hemisférios são
organizadas em sinalizantes surdos. Já que o hemisfério esquerdo em ouvintes é
responsável pela função lingüística e o direito pelas funções visual-espaciais, é esperado
que nas línguas de sinais haja uma combinação de ambos os hemisférios para uso destas
capacidades.
Desta forma, os pesquisadores desenvolveram um conjunto de provas
experimentais para investigar a capacidade visual-espacial bem como níveis específicos
de processamento lingüístico para as línguas de sinais. Com isso, eles pretendiam
determinar se um usuário da ASL com lesão cerebral e dificuldades em sinalizar
apresenta tais dificuldades devido a um problema lingüístico, ao uso de símbolos ou ao
controle de movimentos. Para este estudo, foram utilizados sinalizantes surdos que
apresentavam lesão no hemisfério esquerdo e outros com lesão no hemisfério direito do
cérebro.
Os resultados encontrados foram muito interessantes. Os pacientes surdos com
lesão no hemisfério direito, mesmo com uma lesão extensa, não apresentaram
deterioração no seu uso de língua de sinais. Eles se mostraram fluentes, com gramática
estruturada e raros erros de sinalização. Entretanto, apesar da linguagem preservada,
eles mostraram déficits no processamento de relações espaciais não-lingüísticas (como
descrever a organização dos objetos em um aposento). Desta forma, o hemisfério direito
não é responsável pela língua de sinais, apesar de ser responsável pelas relações visualespaciais.
O que se percebe é que a representação mental para relações espaciais entre
objetos reais é diferente daquela organização espacial para conceitos gramaticais
abstratos.
Em contrapartida, os pacientes surdos com lesão no hemisfério esquerdo
apresentaram um bom desempenho nos testes de percepção espacial, mas demonstraram
sua língua de sinais amplamente afetada, com efeitos parecidos com aqueles
encontrados em ouvintes afásicos. Um fato que chamou a atenção foram as diferenças
de padrão nos déficits lingüísticos destes pacientes. Um deles mostrou agramatismo,
não utilizando os sinais adequados, não usando flexões gramaticais nem uma ordem
sintática coerente. Outros dois pacientes, aparentemente, mostraram fluência na
produção, mas com diferentes prejuízos. Um deles usava estrutura coerente, mas
apresentava erros na configuração de mão (como o equivalente a troca de sons na fala),
além de não especificar os referentes no discurso e apresentar problemas de
compreensão. O outro paciente apresentava muitos erros gramaticais, de flexão e de uso
do espaço. Estes dados mostram que lesões no hemisfério esquerdo não causam danos
uniformes na língua de sinais: danos em diferentes regiões afetam diferentes
componentes lingüísticos.
Desta forma, estes achados sugerem que o hemisfério cerebral esquerdo é
dominante para a língua de sinais, assim como também o é para as línguas faladas. A
organização do cérebro para a linguagem não parece ser afetada, particularmente, pela
maneira como a linguagem é percebida e produzida.
Apesar desta dicotomia cerebral, onde o hemisfério esquerdo concentra as
habilidades verbais e o hemisfério direito as visual-espaciais, esta separação é apenas
uma simplificação do que realmente ocorre. Segundo HICKOK et. al. (2002), pesquisas
mais recente apontam que a maioria das habilidades cognitivas pode ser dividida em
múltiplos processos. Em alguns níveis, a atividade cerebral pode ser lateralizada
(acontecendo em um hemisfério), enquanto em outras a atividade é bilateral (ocorrendo
nos dois hemisférios).
A habilidade da linguagem, por exemplo, tem vários componentes (fonológicos,
morfológicos, sintáticos, entoacionais, discursivos). De todos os aspectos da habilidade
lingüística, a produção da linguagem é uma das mais restritas ao hemisfério esquerdo.
Danos neste hemisfério freqüentemente interferem na habilidade de selecionar e reunir
sons e palavras apropriados na fala; entretanto, danos no hemisfério direito raramente
interferem nestes aspectos. Uma exceção no domínio do hemisfério esquerdo para
produção da linguagem é a criação de um discurso coerente. Pacientes com lesão no
hemisfério direito apresentam boa estrutura gramatical, mas freqüentemente divagam de
um assunto a outro, perdendo a conexão entre os tópicos. Assim, a percepção e a
compreensão da linguagem parecem estar menos restritas ao hemisfério esquerdo do
que a produção.
As habilidades espaciais não-lingüísticas também podem ser divididas em vários
componentes, com diferentes padrões de lateralização. As pesquisas mostram que o
hemisfério esquerdo é importante para o nível local de percepção espacial, enquanto que
o direito é importante para processos de nível global. Com isso, os pesquisadores fazem
a seguinte pergunta: a divisão das habilidades visual-espaciais entre os dois hemisférios
está relacionada à divisão das habilidades das línguas de sinais? Sinais individuais e
sentenças sinalizadas podem ser pensados como partes da linguagem, enquanto que um
discurso extenso pode representar como estas partes são conectadas. Talvez o
hemisfério esquerdo seja dominante para produção e compreensão de sinais e sentenças
sinalizadas porque estes processos são dependentes de habilidades espaciais de nível
local. E talvez o hemisfério direito seja dominante para o estabelecimento e manutenção
de um discurso coerente em língua de sinais porque estes processos são dependentes de
habilidades espaciais de nível global.
Os autores, então, resolveram testar sua hipótese e a pesquisa confirmou que
muitos surdos com lesão no hemisfério direito tinham problemas com discursos longos
e outros tinham problemas em manter os referentes dos personagens de suas narrativas
no espaço definido para eles. Entretanto, os sistemas cognitivos no hemisfério esquerdo
que sustentam as habilidades espaciais não-lingüísticas são diferentes daquelas que
sustentam discursos extensos. Ao contrário das expectativas, as habilidades em língua
de sinais de sinalizantes surdos parecem ser independentes de suas habilidades espaciais
não-lingüísticas.
Os resultados desta pesquisa sugerem, também, que a compreensão em línguas
de sinais pode ser mais bilateralmente organizada do que a compreensão em línguas
faladas. Entretanto, a atividade bilateral também foi encontrada em estudos com
ouvintes escutando uma língua falada. Para finalizar, é possível se dizer que estudos de
lesões cerebrais mostram claramente que se existem diferenças entre línguas de sinais e
línguas faladas, elas provavelmente são sutis e específicas da linguagem.

MEMÓRIAS DAS NARRATIVAS SURDAS COMO REGISTRO Por Prof. Karin Strobel

Conversando com um vendedor Surdo, (...) em sua viagem vai descobrindo novos Surdos e divulgando a Libras a educação, direitos e contando as novidades das demais localidades realiza troca de sinais da Libras entre uma comunidade e outra fazendo assim valer que a Libras é uma língua viva que há uma interação que deverá ser acompanhada.  (Shirley Vilhalva)
Quando estudamos e interpretamos a história do povo surdo, não o fazemos pela afeição ao passado, mas pela luz que ele lança sobre as trajetórias do povo surdo hoje. Para estudar e registrar a história de surdos, a tarefa de historiador é submeter os fatos históricos a uma análise, a mais objetiva possível. Neste trabalho
desenvolvemos a partir das fontes obtidas para fazermos registros. Vocês lembram o que são fontes? Voltem a ler a unidade 2 para revisar. Tem várias metodologias para registros de história, nesta unidade vamos
estudar uma, que é a História Oral que é uma metodologia de pesquisa que transcende as fronteiras disciplinares, podendo ser utilizada por diferentes campos dos conhecimentos dependendo unicamente de sua adequação aos objetivos da pesquisa a ser desenvolvida. Como fazemos?
Há escassez de história cultural de surdos, justamente por falta de registros, porque por muitas gerações os povos surdos fazem narrativas não escritas de suas vidas, contam as tradições culturais que integraram em suas comunidades surdas através de língua de sinais, nos séculos passados não tinha como registrar
estas narrativas por não haver tecnologia avançada que hoje temos: as filmagens, fotos, webcam, etc..
Então, a metodologia de história oral corresponde às necessidades de preenchimentos desses vácuos dando sentido extenso à história cultural ilustrando os atos comedidos pelas comunidades surdas que foram herdados aos povos surdos de hoje, como afirma o alemão Walter Benjamin (1892-1940)3: "É fundamental preservar a memória daqueles que não têm lugar nos manuais de história, salvaguardar os seus testemunhos e depoimentos" Então hoje em dia estão sendo feitos muitas filmagens com as narrativas dos surdos militantes, líderes, testemunhas e que tem muitas experiências na política e movimentos das comunidades surdas para registrar os fatos históricos, além disto também tem muitas pesquisas com muitas fontes que comprovam suas narrativas, as fotos, jornais, cartas etc. Como diz Meihy4“ (...) a formulação de documentos através de registros eletrônicos é um dos objetivos da história oral. Tais documentos, contudo, podem também ser analisados a fim de favorecer estudos de identidade e memória cultural” (2006, p.17)
É importante pesquisarmos várias fontes para construir uma história, pois sabemos que um fato histórico é feita de versões. Um mesmo acontecimento pode ser narrado de mil formas diferentes. 
Para apurar uma verdade, a idéia é convocar testemunhas para relatar o que viram e as outras evidencias isto é, fontes também podem ser coletadas. Assim terá mais elementos do que somente uma versão narrada para compor um fato histórico. Às vezes existem múltiplas referências sobre uma mesma situação, em outros momentos, ao contrário, sobrevive apenas uma versão. Tempos depois, alguma descoberta pode dar uma nova visão sobre o fato e gerar uma re-interpretação dos acontecimentos históricos. Isto é muito importante, pois senão corremos o risco de cristalizar as representações a respeito de povo surdo, como por exemplo: “O surdo-mudo é doente”. 
CONCEITO
História oral
A história oral é uma metodologia de pesquisa que consiste em realizar entrevistas gravadas com sujeitos que podem testemunhar sobre acontecimentos, no caso de povo de surdos, geralmente registramos filmagens das narrativas feitas em língua de sinais sobre os acontecimentos das diversas situações ocorridas com as comunidades surdas, instituições, modos de vida ou outros aspectos da história cultural. O pesquisador procura o sujeito que vai fazer narrativa e lhe faz perguntas em língua de sinais através de filmagens, geralmente isto ocorre depois do acontecimento do fato histórico em que se quer investigar. Além disso,
também fazem parte registros biográfico, através de diversas fontes como os documentos, fotos, jornais etc... ao lado de memórias e autobiografias, que permitem compreender como sujeitos experimentaram e  interpretam acontecimentos, situações e modos de vida de uma comunidade surda ou do povo surdo. Isso torna o estudo da história mais real e próximo, facilitando o registro do passado e a compreensão pelas gerações futuras das experiências vividas por sujeitos. As narrativas de povo surdo são usadas como fontes para a compreensão da história cultural de surdos! Como é feita as narrativas de surdos? Ao fazer a entrevista em libras, fazemos filmagens através de filmadora ou de webcam, depois de terminada das entrevistas fazemos a tradução ou transcrição das entrevistas de libras para o português escrito, em alguns
casos também podemos registrar em um CD as filmagens. 

REPRESENTAÇÕES DE SURDOS NO BRASIL EM DEFESA DA EDUCAÇÃO DE SURDOS Por Prof. Karin Strobel

Para o movimento surdo, contam as instâncias que afirma a busca do direito do indivíduo surdo em ser diferente em questões sociais, políticas e econômicas que envolvem o mundo do trabalho, da saúde, da educação, do bem-estar social Perlin, 1998
As comunidades surdas no Brasil têm uma história longa. O povo surdo brasileiro deixou muitas tradições e histórias em suas organizações das comunidades surdas, que podem ser associação de surdos, federações de
surdos, confederações e outros. Associação iniciou diante de uma necessidade de povos surdos terem um
espaço ao se unirem e resistirem contra as práticas ouvintistas que não respeitavam a cultura deles.
No ínicio as associações de surdos tinham exclusivamente o objetivo de natureza social devido ao baixo padrão de vida no século XVIII, os sujeitos surdos tinham o propósito de ajudar uns aos outros em caso de doença, morte e desemprego e, além disso, as associações se propunham a fornecer informações
e incentivos através de conferências e entretenimentos relevantes. (Widel, 1992).
Como afirma MONTEIRO “(...)Há pessoas surdas em toda a parte do Brasil. Porém, muitos surdos são invisíveis à Sociedade, vivendo isoladamente: a) Nos Lugares Comuns ( praças, bares, cinemas, clubes, etc. ), b) Nas Associações de Surdos, c) Nas Escolas e Universidades, d) Nas Clínicas, e) Nas Igrejas” (2006,
p.280) Hoje as associações de surdos fornecem muitas atividades de lazer, cultural, esportivos, sociais e outros. As principais comunidades surdas
1- Associações de Surdos: Uma associação de surdos surge em função de reunir sujeitos surdos que  participam e compartilham os mesmos interesses em comuns, assim como costumes, história, tradições em comuns, em uma determinada localidade, geralmente em uma sede própria ou alugada, ou cedida pelo governo e outros espaços físicos. A Associação de Surdos representa importante espaço de articulação e
encontro da comunidade surda. Importantes movimentos se originaram e ainda se resultam das reuniões e assembléias que ocorrem por todo o Brasil.
2- Federação Nacional de Educação de Surdos / FENEIS: é uma entidade filantrópica, sem fins lucrativos com finalidade sócio-cultural, assistencial e educacional que tem por objetivo a defesa e a luta dos direitos da Comunidade Surda Brasileira. É filiada a Federação Mundial dos Surdos.
3- Confederação Brasileira de Desportos dos Surdos / CBDS. Esta confederação organiza e regulamenta muitas práticas de muitas modalidades de esportes de povo surdos, também promove competições entre as associações de surdos e outros.
4- Federação Estaduais Esportivas de Surdos. 1- Outras Instituições : associações de pais e amigos de surdos, Associações de intérpretes de Libras, escolas de surdos e outros. 2- Representantes religiosas: pastorais de surdos, ministério de keiraihaguiai, grupos de jovens de igrejas, etc...

HISTÓRIA CULTURAL: REFLETINDO NAS DIFERENÇAS CULTURAIS SURDAS NA HISTÓRIA DE EDUCAÇÃO. Por Prof. Karin Strobel

A sociedade impõe limites, Mas isso não significa que a cultura surda Não tenha permissão para se  desenvolver. Jonna Widell
As Informações históricas relativas a fatos como a chegada dos portugueses ao Brasil ou a abolição da escravatura são de fácil acesso em documentos. Nesses registros, no entanto, só se encontram versões oficiais. Existem muitas outras fontes importantes omitidas, no entanto, o que pensavam os índios e os escravos nesses momentos históricos? São poucos os documentos que trazem a ‘voz’ desses dois grupos.
Isto ocorre o mesmo com o povo surdo, a história que surgiu é a história feita segundo sujeitos ouvintes elogiando professores ouvintes pela iniciativa de trabalhos com os surdos e pela tecnologia oralista. Onde está a história das associações de surdos? De professores surdos? De sujeitos surdos bemsucedidos?
Da pedagogia surda? A história cultural de surdos quase nunca lhes é contada, visto que este seria um passo importante para a legitimação do modelo cultural do ‘Ser Surdo’. Conforme Wrigley (1996, p. 38):
Pintar psicohistórias de grandes homens lutando para obter um lugar na história das civilizações dos que ouvem tem pouco ou nada a ver com representar as circunstâncias históricas das pessoas Surdas vivendo à margem daquelas sociedades que ouvem. A votação do Congresso de Milão provocou um "rombo" que ocasionou uma queda na educação de surdos e agora os povos surdos estão criando forças e ânimo para levantarem-se e lutarem pelos seus direitos à educação. A língua de sinais esteve proibida por mais de 100 anos, mas sempre esteve viva na mente dos povos surdos até hoje; no entanto, o desafio é mudar a
história dos surdos. Antes do Milão houve muitos professores surdos, escritores surdos, artistas surdos, líderes e militantes das comunidades surdas que é de extrema importância pesquisarmos e registrarmos.
Vou citar alguns exemplos e almejo que os povos surdos continuem registrando outros exemplos para enriquecer a história cultural. Um dos mais brilhante professor surdo da história cultural dos surdos é o
Ferdinando Berthier, ele nasceu no ano de 1803 em cidade de Louhans, França. Iniciou a educação com 8 anos em Instituto Nacional de Jovens Surdos- Mudos de Paris - INjS e depois de se formar passou a lecionar no mesmo local durante mais de 40 anos. Enquanto foi professor de surdos o seu método de
ensino tinha por base a identidade surda e língua de sinais. Berthier escreveu vários livros e artigos de história de surdos, defendendo o povo surdo, a língua de sinais, a cultura surda, a educação, sobre artistas surdos e determinados surdos que fazem a poesia em LSF (Língua de sinais francês), também relatou as atrocidades cometidos pelo Povo Esparta contra o Povo Surdo, comentou que o Congresso de Milao “é um catástrofe para as pessoas surdas de França se as decisões forem aplicadas”. e outros2, a obra escrita que mais foi destacado foi a biografia de L’Epeé “Um surdo antes e depois do abade L’Epeé”, que resultou o oferecimento de um prêmio especial que era dado anualmente aos sujeitos lustres da sociedade francesa: ao L’Epeé. Em 1834, com seus companheiros surdos, Lenoir, Forestier (que depois dessa época foi diretor de escola de surdos em Lyon), criaram uma comitê de surdos-mudos. Dentre os dez membros desse comitê estava o Frederic Peysson de Montpelier, um pintor destacado que pintou alguns anos depois um quadro “Os últimos momentos de l’Epee” e o italiano Torino Mosca, também pintor. Neste comitê decidiram organizar todos os anos um banquete dos surdos-mudos para homenagear ao abade L’Epée, que foram de grandes sucessos e com isto nasceu o ‘movimento de surdos’.
2 (para saber mais ler o artigo publicado no site: http://143.106.58.55/revista/viewarticle.php?id=126&layout=abstract ) Participavam neste banquete muitos surdos estrangeiros, de Itália, Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos, entre eles estavam o John Carlin (aluno de Laurent Clerc) e outros.
Fonte: FISCHER, Renate & LANE, Harlan (eds.) Looking Back – International Studies on Sign Language and Communication of the Deaf. SIGNUM PRESS. 1993. v.20
O Berthier e seus companheiros criaram a primeira Associação de Surdos visando recolher sujeitos surdos, da qual se originaram outras no mundo todo. Recebeu o prêmio French Legion of Honor (Legião de Honra Francesa). O interessante é que através de relatos de Berthier notamos que muitos dos nomes que foram aclamados na história de surdos como heróis salvadores de povos surdos eram por ele considerados plagiadores e outras vezes charlatões, mas enaltece o L”Epée, embora não concorde com alguns feitos do mesmo, vemos a seguir a citação dele (apud NASCIMENTO): Até então, como eu já havia explicado, todos os educadores de surdos interpretavam o princípio que “nossa mente não contém nada que não chegou lá através dos sentidos” como se seu único trabalho fosse dar a estes desafortunados o uso mecânico da fala.
Ao contrário, l'Epée foi o primeiro a vislumbrar na linguagem mímica ainda imperfeita deles, meios mais seguros e simples de comunicação e uma mais direta e clara tradução de pensamento. (2006, p. 256)
Outro surdo, o Pierre Pelissier, além de professor da Instituição Imperial de Paris, também era um poeta e membro ativo da “Sociedade Central de Educação de Assistência aos Surdos-Mudos”. Foi ele quem elaborou um manual de sinais, a “iconografia de sinais”, que mais tarde no ano de 1875, foi reproduzida pelo surdo brasileiro Flausino de Gama.

HISTORICISMO: O CONFLITO DO CONGRESSO DE MILÃO 1880 Por Prof. Karin Strobel

Esta história dos surdos é uma decepção, simplesmente reinvocando e reescrevendo a dominação e a exclusão que têm mais freqüentemente sido conhecidas como os “marcadores” da experiência histórica das pessoas surdas (Wrigley, 1996) Nenhuma outra ocorrência na história da educação de surdos teve um
grande impacto nas vidas e na educação dos povos surdos. Houve a tentativa de fazer da língua de sinais em extinção. Em 6 até 11 de setembro de 1880, houve um congresso internacional de educadores surdos em cidade de Milão na Itália. Neste congresso, foi feita uma votação proibindo oficialmente a língua dos sinais na educação de surdos. Este congresso foi organizado, patrocinado e conduzido por muitos especialistas ouvintistas, todos defensores do oralismo puro. Do total de 164 delegados, 56 eram oralistas franceses e 66 eram oralistas italianos; assim, havia 74% de oralistas da França e da Itália. Alexander Grahan Bell teve grande influência neste congresso. Os únicos países contra a proibição eram os Estados Unidos e Grã-
Bretanha, havia professores surdos também, mas as suas ‘vozes’ não foram ouvidas e excluídas de seus direitos de votarem. Vejam as seguintes oito definições que foram declaradas e votadas durante o Congresso, que mudou drasticamente toda a história de surdos. Definição 1 Considerando em exceção de preferência de sinais do que de fala ao integrar o surdo-mudo à sociedade, e em dar-lhe um conhecimento melhor da língua, Declara: Que o método oral deve ser preferido do que a de língua de sinais para o ensino e na educação dos surdos-mudos. 160 votação a favor e 4 contra em 7/9/1880.
Definição 2 Considerando que o uso simultâneo da fala e de língua de sinais tem a desvantagem de prejudicar a fala, a leitura labial e a precisão das idéias, Declara: Que o método oral puro deve ser preferido. 150 votação a favor e 16 contra em 9/9/1880.
Definição 3 Considerando que um grande número de surdos-mudos não estão recebendo os benefícios da educação, e que esta circunstância é devida à ineficácia das famílias e das instituições, Recomenda:
que os governos tomem as medidas necessárias para que todos os surdos-mudos possam receber educação.
Votação a favor unanimemente em 10/9/1880.
Definição 4 Considerando-se que o ensino ao surdo oralizado pelo Método Oral Puro deve se assemelhar tanto quanto possível ao ensino daqueles que ouvem e falam, Declara: a) Que o meio mais natural e mais eficaz através do qual o surdo oralizado pode adquirir o conhecimento da língua é o método “intuitivo”, o qual consiste em expressar-se primeiramente pela fala, e em seguida através da escrita, os objetos e os fatos que são colocados diante dos olhos dos alunos.
b) Que no período inicial, ou maternal, o surdo-mudo deve ser conduzido à observação de formas gramaticais por meio de exemplos e de exercícios práticos, e no segundo período ele deve receber auxílio para deduzir as regras gramaticais a partir dos exemplos, expressadas com o máximo de simplicidade e clareza.
c) Que os livros, escritos com palavras e em formas lingüísticas familiares aos alunos, estejam sempre  acessíveis. Aprovado em 11/09/1880.
Definição 5 Considerando-se a carência de livros elementares o suficiente para auxiliar no desenvolvimento gradual e progressivo da língua,  Recomenda: Que os professores do sistema oral devem se dedicar à publicação de obras especiais sobre o assunto. Aprovado em 11/09/1880.
Definição 6 Considerando-se os resultados obtidos por meio de várias pesquisas realizadas a respeito de surdos-mudos de todas as idades e condições que haviam se evadido da escola há muito tempo, e que quando tinham de responder a perguntas sobre diversos assuntos, responderam corretamente, com clareza de articulação suficiente e conseguiram ler os lábios de seus interlocutores com grande facilidade, Declara:
a) Que os surdos-mudos ensinados pelo método oral puro não se esquecem, após ter deixado a escola, os conhecimentos que lá adquiriram, mas os desenvolvem continuamente através das conversação e da leitura, quando estas são facilitadas.
b) Que em sua conversação com pessoas ouvintes, os surdos-mudos fazem uso exclusivo da fala.
c) Que a fala e a leitura labial, muito longe de terem sido abandonadas, são desenvolvidas através de prática.
Aprovado em 11/09/1880..
Definição 7 Considerando-se que o ensino de surdos-mudos através da fala tem exigências peculiares;  considerando-se também que a experiência dos professores de surdos-mudos é quase unânime, Declara:
a) Que a idade mais favorável para admitir uma criança surda na escola é entre oito e dez anos.
b) Que o período letivo deve ter ao menos sete anos; mas preferencialmente oito anos.
c) Que nenhum professor pode ensinar um grupo de mais de dez crianças no método oral puro. Aprovado em 11/09/1880.
Definição 8 Considerando-se que a aplicação do método oral puro nas instituições onde ele ainda não esta em pleno funcionamento, deve ser - para evitar um fracasso do contrário inevitável - prudente, gradual, progressiva. Recomenda:
a) Que os alunos com ingresso recente nas escolas devem formar um grupo em si, onde o ensino poderia ser ministrado através da fala.
b) Que estes alunos devem absolutamente ser separados de outros alunos que tiveram defasagem no ensino através da fala, e cuja educação será finalizada através de sinais.
c) Que um novo grupo oralizado seja estabelecido todos os anos, e que todos os alunos antigos que
foram ensinados por sinais terminem sua educação. Aprovado em 11/09/1880.
Obviamente vocês já perceberam que a causa do oralismo puro já era vitoriosa, por causa do número de presentes de sujeitos ouvintistas; assim demonstrou-se que o triunfo do oralismo puro já estava determinado antes mesmo de o congresso iniciar. O que aconteceu depois? Após o congresso, a maioria dos países adotou rapidamente o método oral nas escolas para surdos, proibindo oficialmente a língua de sinais, decaiu
muito o número de surdos envolvidos na educação de surdos. Em 1960, nos Estados Unidos, eram somente 12% os professores surdos como o resto do mundo. Em conseqüência disto, a qualidade da educação dos surdos diminuiu e as crianças surdas saíam das escolas com qualificações inferiores e habilidades
sociais limitadas. Ali começou uma longa e sofrida batalha do povo surdo para defender o seu direito lingüístico cultural, as associações dos surdos se uniram mais, os povos surdos que lutam para evitar a extinção das suas línguas de sinais.

DIFERENTES OLHARES NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DOS SURDOS Por Prof. Karin Strobel

A análise histórica busca, justamente, captar o aleatório que casualmente conduziu à produção de um
resultado específico que, contudo, parece necessário. (Goldman, 1998, p.89-90)
A historia de surdos registrada segue várias trajetórias, nas quais citarei algumas visões diferenciadas que são por um lado a história da educação dos surdos que contém muito de Historicismo, ou seja a história escrita onde predomina a hegemonia dos poderosos; a história na visão da influência preponderante e superioridade e por outro lado, a Historia Cultural’, ou seja a história na visão das diferentes culturas, em nosso caso, dos povos surdos, que infelizmente tem poucos registros. Segue reflexão da autora SÁ a respeito da história de surdos: “Em síntese, a história dos surdos, contada pelos não-surdos, é mais ou menos assim: primeiramente os surdos foram ‘descobertos’ pelos ouvintes, depois eles foram isolados da sociedade para serem  ‘educados’ e afinal conseguirem ser como os ouvintes; quando não mais se pôde isola-los, porque eles
começaram a formar grupos que se fortaleciam, tentou-se dispersa-los, para que não criassem guetos. (2004, p.3) e por ultimo há outra visão: a história na visão crítica, que seria o historicismo e a história cultural mistas.
Diferentes olhares na história de surdos: 1- Historicismo / História hegemonia: O historicismo é a doutrina segundo a qual cada período da história tem crenças e valores únicos, devendo cada fenômeno ser entendido através do seu contexto histórico; no caso de história de surdos é a valorização excessiva da história do colonizador. Em Estudos Surdos, segundo a PERLIN (2003), para os surdos, a definição de historicismo é a história concebida na visão do colonizador, isto é do ouvintismo Exemplo do que poderia ser o historicismo de hoje: Entrega aos especialistas uma criança surda saudável, mas que se torna uma criança ‘deficiente’ ao ser avaliada, que agora é rotulada com um modelo de enfermidade baseado no grau de surdez e a partir daí os especialistas preocupam-se em minimizar a educação destinada aos considerados normais e acreditando que dessa forma estão usando de tempo em oferecer tratamento cliníco-terapêutico para cura desta enfermidade. 2- História cultural: é uma nova forma de a história de surdos trabalhar dando lugar à cultura e não mais a historia escrita sob as visões do colonizador”. A História Cultural reflete os movimentos mundiais de surdos procurando não ter uma tendência em priorizar apenas os fatos vivenciados pelos educadores
ouvintes, tornando-se uma história das instituições escolares e das metodologias ouvintistas de ensino e sim procurar levar através de relatos, depoimentos, fatos vivenciados e observações de povo surdo, misturando-se em um emaranhado de acontecimentos e ações, levadas a cabo por associações, federações, escolas e
movimentos de surdos que são desconhecidas pela grande maioria das pessoas. Aspectos que se referem a história cultural de hoje: Piadas e contação de histórias; Artes surdas; Teatro com expressão visual e  orporal;
Comportamentos; Pedagogia surda Artefatos em casas e escolas de surdos: despertadores vibradores,  tdd/ts,  celulares com torpedos, closed caption, campainhas com luz, babá sinalizadores, etc.
3- História na visão crítica: “Pode haver historicismo e história cultural que se misturam e usam o jogo de  camuflagem’ que aqui indica como ‘espaço’ diante dos olhos como incompleto, como fragmento, corte, máscara, escudo, representação e/ou fingimento. O uso dessa ‘máscara’ pode ser consciente ou
não, que pode até estar banhado de dúvidas e/ou dificuldades de aceitação e lutam contra ela, acreditando que esta intenção é sincera, sendo assim que acham mais fácil ignorar do que a ter que conviver com as verdades que por vezes podem ser dolorosas ou medo de se expressar num grupo que luta contra
as práticas ouvintistas e não quer ‘enxergar’ o outro lado da história. Mas devesse ter sido visto abertamente de outro modo, de outro ângulo e/ou algo escaparam ao alcance dos seus olhos e não perceberam.
Exemplos de prática da história crítica de hoje Bilinguísmo mascarado Respeito de cultura surda?
Relação de Poder: Ouvintes X Surdos Vejamos na tabela abaixo de como são as representações dos sujeitos surdos em diferentes olhares:
Historicismo História crítica História Cultural
⇒ Os surdos narrados como
deficientes e patológicos
⇒ Os surdos são
categorizados em graus
de surdez
⇒ A educação deve ter um
caráter clinico-terapêutico
e de reabilitação
⇒ A língua de sinais é
prejudicial aos surdos
⇒ Os surdos narrados como
‘coitadinhos’ que precisam
de ajuda para se
promoverem, se integrar
⇒ Os surdos têm capacidade,
mas dependentes.
⇒ A educação como caridade,
surdos ‘precisam’ de ajuda
para apoio escolar, porque
tem dificuldades de
acompanhar.
⇒ A língua de sinais é usada
somente como apoio ou
recurso.
⇒ Os surdos narrados como
sujeitos com experiências
visuais
⇒ As identidades surdas são
múltiplas e multifacetadas
⇒ A educação de surdos
deve ter respeito à
diferença cultural
⇒ A língua de sinais é a
manifestação da diferença
lingüística-cultural relativa
aos surdos

CRONOGRAMA DE HISTÓRIA DE SURDOS Por Prof. Karin Strobel

CRONOGRAMA DE HISTÓRIA DE SURDOS
O ser surdo está presente como sinal e marca de
uma diferença, de uma cultura e de uma alteridade
que não equivale à dos ouvintes.
Autor desconhecido
Iniciaremos esta unidade mencionando algumas versões históricas de
surdos oficiais registrados em muitos livros. Os fatos listados no cronograma
abaixo seguem na seqüência em cinco grandes períodos: Pré-História, Idade
Antiga ou Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea.
Esperamos que venham a convir para que todos possam analisar os seus
estudos com antecedência já com um conhecimento prévio dos assuntos a serem
abordados.
Cito alguns trechos interessante do artigo produzido pela autora
Nascimento (acesso 20/09/2006)1, segundo ela, um professor surdo da França,
Berthier escreveu que:
“Inicia a história na antigüidade, relatando as conhecidas
atrocidades realizadas contra os surdos pelos espartanos, que
condenavam a criança a sofrer a mesma morte reservada ao
retardado ou ao deformado: "A infortunada criança era
prontamente asfixiada ou tinha sua garganta cortada ou era
lançada de um precipício para dentro das ondas. Era uma traição
poupar uma criatura de quem a nação nada poderia esperar"
(BERTHIER, 1984, p.165).
As narrativas das experiências de vida de sujeitos surdos mostram que não
existem só as versões de professores ouvintes, abades, médicos, políticos e
outros. Nas comunidades surdas, a associação dos surdos é um dos lugares mais
propícios para dar ‘voz’ a essas novas fontes!
Este cronograma é extração de várias partes de muitas publicações sobre a
história dos surdos, isto não quer dizer que toda a história é verictica ou não, para
isto há uma grande necessidade de uma pesquisa mais profunda para comprovar
cada fato histórico registrado, assim como afirma Berthier:
“Até esse ponto sua narrativa da história dos surdos não
apresenta nenhuma novidade, mas ao iniciar o relato da
educação dos surdos a partir da idade moderna, nos surpreende
com a afirmação de que é um erro considerar Pedro Ponce de
León (1520 - 1584) o primeiro professor de surdos”
“Ainda tratando de professores espanhóis, Berthier nos revela sua
indignação ao ver Juan Pablo Bonet (1579-1629), autor do livro
"Arte para enseñar a hablar a los mudos", creditar a si a
descoberta de como ensinar o surdo a falar. Segundo Berthier, tal
crédito poderia ser reivindicado por seu rival Ramirez de Carrion,
que era surdo congênito e teve sucesso, no julgamento dos
críticos de seu tempo, em um experimento com Emmanuel
Philibert, o príncipe surdo de Carignan. “Seu livro, publicado nove
anos depois do de Bonet, recebeu o título Maravillas de
naturaleza, em que se contienen dos mil secretos de cosas
naturales, 1629”. (BERTHIER, 1984, p. 170).”
1 Nascimento, Lilian Cristine Ribeiro, “UM POUCO MAIS DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DOS
SURDOS, SEGUNDO FERDINAND BERTHIER”,
http://143.106.58.55/revista/viewarticle.php?id=126&layout=abstract acesso: 20/09/2006.
Idade Antiga
Escrita a 476 d.C,
Bíblia: E trouxeram-lhe um surdo, que falava
dificilmente: e rogaram-lhe que pusesse a mão sobre ele. E
tirando-o à parte de entre multidão, meteu-lhe os dedos nos
ouvidos; e, cuspindo, tocou-lhe na língua. E levantando os
olhos ao céu, suspirou, e disse: Efatá; isto é, Abre-te. E logo
se abriram os seus ouvidos, e a prisão da língua se desfez, e
falava perfeitamente. E ordenou-lhes que a ninguém o
dissessem; mas, quanto mais lho proibia, tanto mais o
divulgavam. E admirando-se sobremaneira, diziam: Tudo faz
bem: faz ouvir os surdos e falar os mudos. (Marcos, 7: 31-37)
Na Roma não perdoavam os surdos porque achavam
que eram pessoas castigadas ou enfeitiçadas, a questão era
resolvida por abandono ou com a eliminação física –
jogavam os surdos em rio Tiger. Só se salvavam aqueles que
do rio conseguiam sobreviver ou aqueles cujos pais os
escondiam, mas era muito raro – e também faziam os surdos
de escravos obrigando-os a passar toda a vida dentro do
moinho de trigo empurrando a manivela.
Na Grecia, os surdos eram considerados inválidos e muito
incômodo para a sociedade, por isto eram condenados à
morte – lançados abaixo do topo de rochedos de Taygéte,
nas águas de Barathere - e os sobreviventes viviam
miseravelmente como escravos ou abandonados só.
Para Egito e Pérsia, os surdos eram considerados como
criaturas privilegiadas, enviados dos deuses, porque
acreditavam que eles comunicavam em segredo com os
deuses. Havia um forte sentimento humanitário e respeito,
protegiam e tributavam aos surdos a adoração, no entanto,
os surdos tinham vida inativa e não eram educados
500 a.C.
O filósofo Hipócrates associou a clareza da palavra
com a mobilidade da língua, mas nada falou sobre a audição
470 a.C.
O filósofo heródoto classificava os surdos como
“Seres castigados pelos deuses”.
O filósofo grego Sócrates perguntou ao seu discípulo
Hermógenes: “Suponha que nós não tenhamos voz ou
língua, e queiramos indicar objetos um ao outro. Não
deveríamos nós, como os surdos-mudos, fazer sinais com as
mãos, a cabeça e o resto do corpo?” Hermógenes respondeu:
“Como poderia ser de outra maneira, Sócrates?” (Cratylus de
Plato, discípulo e cronista, 368 a.C.).
355 a.C.
O filósofo Aristóteles (384 – 322 a.C.) acreditava
que quando não se falavam, consequentemente não
possuíam linguagem e tampouco pensamento, dizia que: “...
de todas as sensações, é a audição que contribuiu mais para
a inteligência e o conhecimento..., portanto, os nascidos
surdo-mudo se tornam insensatos e naturalmente incapazes
de razão”, ele achava absurdo a intenção de ensinar o surdo
a falar.
Idade Média
476 - 1453
Não davam tratamento digno aos surdos, colocava-os em
imensa fogueira. Os surdos eram sujeitos estranhos e objetos
de curiosidades da sociedade.
Aos surdos eram proibido receberem a comunhão porque
eram incapazes de confessar seus pecados, também haviam
decretos bíblicos contra o casamento de duas pessoas surdas
só sendo permitido aqueles que recebiam favor do Papa.
Também existiam leis que proibiam os surdos de receberem
heranças, de votar e enfim, de todos os direitos como
cidadãos.
530
Os monges beneditinos, na Itália, empregavam uma
forma de sinais para comunicar entre eles, a fim de não
violar o rígido votos de silêncio.
Idade moderna
1453 – 1789
1500
Girolamo Cardano (1501-1576) era médico filósofo
que reconhecia a habilidade do surdo para a razão,
afirmava que “...a surdez e mudez não é o impedimento
para desenvolver a aprendizagem e o meio melhor dos
surdos de aprender é através da escrita... e que era um crime
não instruir um surdo-mudo.” Ele utilizava a língua de
sinais e escrita com os surdos.
O monge beneditino Pedro Ponce de Leon (1510-
1584), na Espanha, estabeleceu a primeira escola para
surdos em um monastério de Valladolid, inicialmente
ensinava latim, grego e italiano, conceitos de física e
astronomia aos dois irmãos surdos, Francisco e Pedro
Velasco, membros de uma importante família de
aristocratas espanhóis; Francisco conquistou o direito de
receber a herança como marquês de Berlanger e Pedro se
tornou padre com a permissão do Papa. Ponce de Leon
usava como metodologia a dactilologia, escrita e oralização.
Mais tarde ele criou escola para professores de surdos.
Porém ele não publicou nada em sua vida e depois de sua
morte o seu método caiu no esquecimento porque a tradição
na época era de guardar segredos sobre os métodos de
educação de surdos.
Nesta época, só os surdos que conseguiam falar tinham
direito à herança.
Fray de Melchor Yebra, de Madrid, escreveu livro
chamado “Refugium Infirmorum” ,que descreve e ilustra o
alfabeto manual da época. 1613
Na Espanha, Juan Pablo Bonet (1579-1623) iniciou
a educação com outro membro surdo da família Velasco,
Dom Luís, através de sinais, treinamento da fala e o uso de
alfabeto dactilologia, teve tanto sucesso que foi nomeado
pelo rei Henrique IV como “Marquês de Frenzo”.
O Juan Pablo Bonet publicou o primeiro livro sobre
a educação de surdos em que expunha o seu método oral,
“Reduccion de las letras y arte para enseñar a hablar a los
mudos” no ano de 1620 em Madrid, Espanha. Bonet
defendia também o ensino precoce de alfabeto manual aos
surdos.
1644
John Bulwer (1614-1684) publicou “Chirologia e
Natural Language of the Hand”, onde preconiza a
utilização de alfabeto manual, língua de sinais e leitura
labial, idéia defendida pelo George Dalgarno anos mais
tarde.
John Bulwer acreditava que a língua de sinais era
universal e seus elementos constituídos icônicos.
1648
John Bulwer publicou “Philocopus”, onde afirmava
que a língua de sinais era capaz de expressar os mesmos
conceitos que a língua oral
1700
Johan Conrad Ammon (1669-1724), médico suíço
desenvolveu e publicou método pedagógico da fala e da
leitura labial: “Surdus Laquens”.
1741
Jacob Rodrigues Pereire (1715-1780),foi
provavelmente o primeiro professor de surdos na França,
oralizou a sua irmã surda e utilizou o ensino de fala e de
exercícios auditivos com os surdos. A Academia Francesa de
Ciências reconheceu o grande progresso alcançado por
Pereire: “Não tem nenhuma dificuldade em admitir que a
arte de leitura labial com suas reconhecidas limitações, (...)
será de grande utilidade para os outros surdos-mudos da
mesma classe, (...) assim como o alfabeto manual que o
Pereira utiliza”.
.1755
Samuel Heinicke (1729-1790) o “Pai do Método
Alemão” – Oralismo puro – iniciou as bases da filosofia
oralista, onde um grande valor era atribuído somente à fala,
em Alemanha.
Samuel Heinicke publicou uma obra “Observações sobre os
Mudos e sobre a Palavra”.
Em ano de 1778 o Samuel Heinicke fundou a primeira
escola de oralismo puro em Leipzig, inicialmente a sua
escola tinha 9 alunos surdos. Em carta escrita à L’Epée, o
Heinicke narra: “meus alunos são ensinados por meio de um
processo fácil e lento de fala em sua língua pátria e língua
estrangeira através da voz clara e com distintas entonações
para a habitações e compreensão
Uma pessoa muito conhecida na história de
educação dos surdos, o abade Charles Michel de L’Epée
(1712-1789) conheceu duas irmãs gêmeas surdas que se
comunicavam através de gestos, iniciou e manteve contato
com os surdos carentes e humildes que perambulavam pela
cidade de Paris, procurando aprender seu meio de
comunicação e levar a efeito os primeiros estudos sérios
sobre a língua de sinais. Procurou instruir os surdos em sua
própria casa, com as combinações de língua de sinais e
gramática francesa sinalizada denominado de “Sinais
métodicos”. L’Epée recebeu muita crítica pelo seu trabalho,
principalmente dos educadores oralistas, entre eles, o
Samuel Heinicke.
Todo o trabalho de abade L’Epée com os surdos
dependia dos recursos financeiros das famílias dos surdos e
das ajudas de caridades da sociedade.
Abade Charles Michel de L’Epée fundou a primeira
escola pública para os surdos “Instituto para Jovens Surdos
e Mudos de Paris” e treinou inúmeros professores para
surdos.
O abade Charles Michel de L’Epée publicou sobre o ensino
dos surdos e mudos por meio de sinais metódicos: “A
verdadeira maneira de instruir os surdos-mudos”, o abade
colocou as regras sintáticas e também o alfabeto manual
inventado pelo Pablo Bonnet e esta obra foi mais tarde
completada com a teoria pelo abade Roch-Ambroise Sicard.
1760
Thomas Braidwood abre a primeira escola para
surdos na Inglaterra, ele ensinava aos surdos os significados
das palavras e sua pronúncia, valorizando a leitura
orofacial
Idade
contemporânea
1789 até os nossos dias
1789
Abade Charles Michel de L’Epée morre. Na ocasião
de sua morte, ele já tinha fundado 21 escolas para surdos na
França e na Europa.
1802
Jean marc Itard, Estados Unidos, afirmava que o
surdo podia ser treinado para ouvir palavras, ele foi o
responsável pelo clássico trabalho com Victor, o “garoto
selvagem” (o menino que foi encontrado vivendo junto com
os lobos na floresta de Aveyron, no sul da França),
considerando o comportamento semelhante à um animal por
falta de socialização e educação, apesar de não ter obtido
sucesso com o “selvagem” na relação à língua francesa, mas
influenciou na educação especial com o seu programa de
adaptação do ambiente; afirmava que o ensino de língua de
sinais implicava o estímulo de percepção de memória, de
atenção e dos sentidos.
1814
Em Hartford, nos Estados unidos, o reverendo
Thomas Hopkins Gallaudet (1787-1851) observava as
crianças brincando no seu jardim quando percebeu que uma
menina, Alice Gogswell, não participava das brincadeiras
por ser surda e era rejeitada das demais crianças. Gallaudet
ficou profundamente tocado pelo mutismo da Alice e pelo
fato de ela não ter uma escola para freqüentar, pois na
época não havia nenhuma escola de surdos nos Estados
Unidos. Gallaudet tentou ensinar-lhe pessoalmente e
juntamente com o pai da menina, o Dr. Masson Fitch
Gogswell, pensou na possibilidade de criar uma escola para
surdos.
O americano Thomas Hopkins Gallaudet parte à Europa
para buscar métodos de ensino aos surdos. Na Inglaterra, o
Gallaudet foi conhecer o trabalho realizado por Braidwood,
em escola “Watson’s Asylum” (uma escola onde os métodos
eram secretos, caros e ciumentamente guardados) que usava
a língua oral na educação dos surdos, porém foi impedido e
recusaram-lhe a expor a metodologia, não tendo outra opção
o Gallaudet partiu para a França onde foi bem acolhido e
impressionou-se com o método de língua de sinais usado
pelo abade Sicard.
Thomas Hopkins Gallaudet volta à América trazendo o
professor surdo Laurent Clerc, melhor aluno do “Instituto
Nacional para Surdos Mudos”, de Paris. Durante a
travessia de 52 dias na viagem de volta ao Estados Unidos,
Clerc ensinou a língua de sinais para Gallaudet que por sua
vez lhe ensinou o inglês.
Thomas H. Gallaudet, junto com Clerc fundou em Hartford,
15 de abril, a primeira escola permanente para surdos nos
Estados Unidos, “Asilo de Connecticut para Educação e
Ensino de pessoas Surdas e Mudas”. Com o sucesso
imediato da escola levou à abertura de outras escolas de
surdos pelos Estados Undisos, quase todos os professores de
surdos já eram usuários fluentes em língua de sinais e
muitos eram surdos também.
1846
Alexander Melville Bell, professor de surdos, o pai
do célebre inventor de telefone Alexander Grahan Bell,
inventou um código de símbolos chamado “Fala vísivel” ou
“Linguagem vísivel”, sistema que utilizava desenhos dos
lábios, garganta, língua, dentes e palato, para que os surdos
repitam os movimentos e os sons indicados pelo professor.
1855
Eduardo Huet, professor surdo com experiência de
mestrado e cursos em Paris, chega ao Brasil sob beneplácido
do imperador D.Pedro II, com a intenção de abrir uma
escola para pessoas surdas.
1857
Foi fundada a primeira escola para surdos no Rio de
Janeiro – Brasil, o “Imperial Instituto dos Surdos-
Mudos”,hoje, “Instituto Nacional de Educação de
Surdos”– INES, criada pela Lei nº 939 (ou 839?) no dia 26
de setembro. Foi nesta escola que surgiu, da mistura da
língua de sinais francesa com os sistemas já usados pelos
surdos de várias regiões do Brasil, a LIBRAS (Língua
Brasileira de Sinais). Dezembro do mesmo ano, o Eduardo
Huet apresentou ao grupo de pessoas na presença do
imperador D.Pedro II os resultados de seu trabalho
causando boa impressão.
1861
Ernest Huet foi embora do Brasil devido aos seus
problemas pessoais, para lecionar aos surdos no México,
neste período o INES ficou sendo dirigido por Frei do
Carmo que logo abandonou o cargo alegando: “Não agüento
as confusões” e com isto foi substituído por Ernesto do
Prado Seixa.
1862
Foi contratado para cargo de diretor do INES, Rio
de Janeiro, o Dr. Manoel Magalhães Couto, que não tinha
experiência de educação com os surdos.
1864
Foi fundado a primeira universidade nacional para
surdos “Universidade Gallaudet” em Washington –
Estados Unidos, um sonho de Thomas Hopkins Gallaudet
realizado pelo filho do mesmo, Edward Miner Gallaudet
(1837-1917)
1867
Alexander Grahan Bell (1847-1922), nos Estados
Unidos, dedicou-se aos estudos sobre acústica e fonética.
1868
Após a inspeção governamental, o INES foi
considerado um asilo de surdos, então o dr. Manoel
Magalhães foi demitido e o sr. Tobias Leite assumiu a
direção.
Entre os anos 1870 e 1890, o Alexander Grahan Bell
publicou vários artigos criticando casamentos entre pessoas
surdas, a cultura surda e as escolas residenciais para surdos,
alegando que são os fatores o isolamento dos surdos com a
sociedade. Ele era contra a língua de sinais argumentando
que a mesma não propiciavam o desenvolvimento
intelectual dos surdos.
1872
Alexander Graham Bell abriu sua própria escola
para treinar os professores de surdos em Boston, publicou
livreto com método “ O pioneiro da fala visível”, a
continuação do trabalho do pai.
1873
Alexander Graham Bell deu aulas de fisiologia da
voz para surdos na Universidader de Boston. Lá ele
conheceu a surda Mabel Gardiner Hulbard com quem se
casou no ano 1877.
1875
Um ex-aluno do INES, Flausino José da Gama, aos
18 anos, publicou “Iconografia dos Signaes dos Surdos-
Mudos”, o primeiro dicionário de língua de sinais no Brasil.
1880
Realizou-se Congresso Internacional de Surdo-
Mudez, em Milão – Itália, onde o método oral foi votado o
mais adequado a ser adotado pelas escolas de surdos e a
língua de sinais foi proibida oficialmente alegando que a
mesma destruía a capacidade da fala dos surdos,
argumentando que os surdos são “preguiçosos” para falar,
preferindo a usar a língua de sinais. O Alexander Graham
Bell teve grande influência neste congresso. Este congresso
foi organizado, patrocinado e conduzido por muitos
especialistas ouvintes na área de surdez, todos defensores
do oralismo puro (a maioria já havia empenhado muito
antes de congresso em fazer prevalecer o método oral puro
no ensino dos surdos). Na ocasião de votação na assembléia
geral realizada no congresso todos os professores surdos
foram negados o direito de votar e excluídos, dos 164
representantes presentes ouvintes, apenas 5 dos Estados
Unidos votaram contra o oralismo puro.
Nasce a Hellen Keller em Alabama, Estados
Unidos. Ela ficou cega, surda e muda aos 2 anos de idade.
Aos 7 anos foi confiada a professora Anne Mansfield
Sullivan, que lhe ensinou o alfabeto manual tatil (método
empregado pelos surdos-cegos). Hellen Keller obteve graus
universitários e publicou trabalhos autobiográficos.
1932
O escultor surdo, Antônio Pitanga, pernambucano,
formado pela escola de Belas Artes, foi vencedor dos
prêmios: Medalha de prata (escultura Menino sorrindo),
Medalha de ouro (Escultura Ícaro) e o prêmio viagem à
Europa (com a escultura Paraguassú).
1951
Um surdo, Vicente de Paulo Penido Burnier foi
ordenado como padre no dia 22 de setembro. Ele esperou
durante 3 anos uma liberação do Papa da Lei Direito
Canônico que na época proibia surdo de se tornar padre.
1957
Por decreto imperial, Lei nº 3.198, de 6 de julho,
o “Imperial Instituto dos Surdos-Mudos” passou a chamarse
“Instituto Nacional de Educação dos Surdos” – INES.
Nesta época a Ana Rímola de Faria Daoria assumiu a
direção do INES com a assessoria da professora Alpia
Couto , proibiram a língua de sinais oficialmente nas salas
de aula, mesmo com a proibição os alunos surdos
continuaram usar a língua de sinais nos corredores e nos
pátios da escola.
1960
Willian Stokoe publicou “Linguage Structure: na
Outline of the Visual Communication System of the
American Deaf” afirmando que ASL é uma língua com
todas as características da língua oral. Esta publicação foi
uma semente de todas as pesquisas que floresceram em
Estados Unidos e na Europa.
1961
O surdo brasileiro Jorge Sérgio L. Guimarães
publicou no Rio de Janeiro o livro “Até onde vai o Surdo”,
onde narra suas experiências de pessoa surda em forma de
crônicas.
1969
A Universidade Gallaudet adotou a Comunicação
Total.
O padre americano Eugênio Oates publicou no Brasil
“Linguagem das Mãos”, que contém 1258 sinais
fotografados.
1977
Foi criada a FENEIDA (Federação Nacional de
Educação e Integração dos Deficientes Auditivos) composta
apenas por pessoas ouvintes envolvidas com a problemática
da surdez.
Foi lançado o livro de poemas: “Ansia de amar” do
surdo Jorge Sérgio Gimarães, após a morte do mesmo.
1994
Foi fundada a CBDS, Confederação Brasileira de
desportos de Surdos, em São Paulo- Brasil
1986
Estreou o filme “Filhos do Silêncio”, na qual pela
primeira vez uma atriz surda, a Marlee Matlin, conquistou
o Oscar de melhor atriz em Estados Unidos.
1987
Foi fundada a FENEIS– Federação Nacional de
Educação e Integração dos Surdos , no Rio de Janeiro –
Brasil, sendo que a mesma foi reestruturada da antiga ex-
FENEIDA.
A FENEIS conquistou a sua sede própria no dia 8
de janeiro de 1993, Rio de Janeiro - Brasil.
1997
Closed Caption (acesso à exibição de legenda na
televisão) foi iniciado pela primeira vez no Brasil, na
emissora Rede Globo, o Jornal Nacional, em mês de
setembro.
1999
Foi lançada a primeira revista da FENEIS, com
capa ilustrativa do desenhista surdo Silas Queirós
2002
Formação de agentes multiplicadores Libras em
Contexto em MEC/Feneis.
2006
Iniciou Letras/libras com 9 polos

TEMPO E A HISTÓRIA Por Prof. Karin Strobel

“Eu não quero explicar o passado nem adivinhar o futuro. Eu só quero entender o presente”
Jorge Luiz Borges
Já comentamos um pouco sobre as transformações ocorridas na comunidade surda, falta comentar sobre a noção de tempo. Para estudarmos a História é, portanto, voltar às épocas passadas para conhecê-lo.
Para descrever e explicar o passado nos selecionamos os fatos que consideramos mais importantes. Escrever história não é simplesmente contar detalhadamente tudo o que aconteceu, mas também organizar os acontecimentos selecionados e darmos uma explicação cientifica a eles.
Por isto é importante compreender o tempo e suas divisões. O tempo é essencial no estudo da história, mas não devemos exagerar a sua importância (no ensino tradicional preocupavam-se com a decoreba de datas
e nomes, longe da realidade se tornando em assuntos chatos que existiam apenas em livros velhos, fotos amareladas e na poeira dos museus). Estas preocupações de compreender o tempo e suas divisões servem apenas para nós como referência para ordenarmos os fatos.
Assim, o tempo ajuda-nos a situar um determinado acontecimento, tem casos que basta apenas a referencia ao século no qual se deu um fato, mas em outros é preciso especificar o ano e até mesmo o mês, o dia e a hora. Observamos que também a vida das pessoas acompanha uma linha do tempo, com uma seqüência de fatos que vão do nascimento à morte. Assim as pessoas nascem, crescem, tem uma infância, uma adolescência, período escolar, casamento, trabalho, nascimento de filhos e vários acontecimentos durante a vida. Isto também ocorre com o povo surdo que têm sua evolução em várias etapas, vamos pesquisar e estudar sobre isto na unidade a seguir. Construir linhas do tempo deixa mais clara a sucessão dos fatos históricos dos povos surdos e suas interações. Qualquer aspecto da história pode ser representado assim.
Para marcar o tempo, geralmente adotam-se o calendário cristão onde o nascimento de Jesus Cristo corresponde ao ano 1. Os historiadores convencionaram que a invenção da escrita, ocorrida por
volta de 4.000 a.C., é o marco principal da história. Todo o período anterior a este marco denomina-se Pré-história. Tradicionalmente, os historiadores dividem a História em cinco grandes períodos: Pré-História, Idade Antiga ou Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea. Essa divisão foi muito criticada. As sociedades são diferentes em cada uma dessas épocas. Além disso, essa divisão foi baseada na história da Europa não correspondendo à realidade histórica de outras partes do mundo. Mas as maiorias de livros de história se referem constantemente a essas idades, por essa razão é importante revisão básica sobre essa divisão para saber de que época se esta falando. Na história de surdos dividimos em 3 grandes fases:
1. Revelação cultural: Nesta fase os povos surdos não tinham problemas com a educação. A maioria dos sujeitos surdos dominava a arte da escrita e há evidência de que havia muitos escritores surdos, artistas surdos, professores surdos e outros sujeitos surdos bem-sucedidos. 2. Isolamento cultural: ocorre uma fase de isolamento da comunidade surda em conseqüência do congresso de Milão de 1880 que proíbe o acesso da língua de sinais na educação dos surdos, nesta fase as comunidades surdas resistem à imposição da língua oral. 3. Restauração cultural: a partir dos anos 60 inicia uma nova fase para o re-nascimento na aceitação da língua de sinais e cultura surda após de muitos anos de opressão ouvintista para com os povos surdos.

CONSTRUINDO A HISTÓRIA Por Prof. Karin Strobel

"(...) olhar a identidade surda dentro dos componentes que constituem as identidades essenciais com as quais se agenciam as dinâmicas de poder. É uma experiência na convivência do ser na diferença."
(Perlin e Miranda)
Nós sabemos que com a história de educação dos surdos nós pesquisamos e investigamos o passado dos povos surdos e das comunidades surdas, procurando obter episódios e compreender as suas realizações
lingüísticas, educacionais, sociais, políticas e culturais.
Com estas investigações permite-nos conhecer os acontecimentos e as conseqüências das transformações pelas quais passou o povo surdo e fornece informações que ajudam a explicar as comunidades surdas atuais.
Estes acontecimentos chamam-se fatos históricos, como cita Vicentino:
“A matéria prima da história são os fatos históricos, acontecimentos que possuem repercussão social, para os quais se busca uma explicação de suas causas e efeitos. A morte do presidente do Brasil, Getúlio Vargas, em 1954, é um exemplo de fato histórico. (...) Já o fato social é um é um acontecimento corriqueiro na vida de uma sociedade, que possui pequeno impacto imediato, como a morte das pessoas ou a crise financeira
de alguém da comunidade.” (1994, p.7)
Para conhecermos e pesquisarmos os fatos históricos precisa-se recuperar marcas ou vestígios deixados pelos homens no passado, estes vestígios chamamse:
Fontes históricas.
A palavra fonte significa o ponto de origem, o lugar onde brota, algo que se projeta e se desenvolve indefinidamente e inesgotavelmente, no caso da história, evidentemente a fonte histórica, são construídas, isto é, são produções humanas.
Vamos ver o esclarecimento do autor Dermeval Saviani sobre os três casos de fontes:
Primeiro caso: ”(...). São documentos, vestígios, indícios que foram acumulando-se ou foram sendo guardados, aos quais recorremos quando buscamos compreender determinado fenômeno”. (2004, p.6)
Segundo caso: “(...) situa-se o nosso empenho em preservar os materiais de que nos servimos, seja como educadores, seja como pesquisadores, tendo em vista sua possível importância para estudos futuros quando esses materiais serão, eventualmente, tomados como preciosas fontes pelos historiadores em sua busca
de compreender o seu passado que é o nosso presente.” (2004, p.7)
Terceiro caso: “(...) estão os registros que efetuamos quando recorremos, por exemplo, a testemunhos orais, cujo registro efetuamos para neles nos apoiarmos em nossa investigação.” (2004, p7)
Na história, as fontes históricas podem ser:
Fontes mudas: podem ser: esqueletos, utensílios, armas, pinturas, túmulos, restos de habitações, monumentos, templos, palácios, estátuas, esculturas, cerâmicas e outros.
Fontes escritas: podem ser: inscrições em pedras, em moedas, em metais e textos de papiro, pergaminho, barro, arquivos, diários, livros, documentos, jornais,
revistas e panfletos.
Fontes narradas: são as lendas, as línguas, as tradições e culturas das comunidades que são passadas de geração a geração através de narrativas.

HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE SURDOS Por Prof. Karin Strobel

A IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO HISTÓRICO
A história comum dos Surdos é uma história que enfatiza a
caridade, o sacrifício e a dedicação necessários para vencer
“grandes adversidades”.
Nídia Limeira de Sá

Sobre a vida do Povo Surdo e a Comunidade Surda.
Quem são eles?
De onde vieram?
Como a Comunidade Surda começou a existir?
Quais as transformações pelas quais passou para chegar ao que é hoje?
O Estudo da história de surdos pode ser uma fonte de prazer, isto porque ela desperta a nossa curiosidade, não é mesmo?
Antes de raciocinarmos sobre a história de surdos, primeiro vamos contemplar o que é ‘história’.
A história é a ciência que estuda a forma de como os homens se organizaram e viveram no passado e entender o processo de constante transformação, no caso da história de surdos, estudamos de como os povos surdos se organizaram e viveram no passado e entender o processo e de transformações de
como as comunidades surdas surgiram.
O estudo do passado é importante para entendermos a situação atual. O estudo do passado nos ajuda a compreender o presente.
Para saber o motivo de estudar a história, devemos nos lembrar de três palavras essenciais: passado, presente e futuro. Por exemplo: Vivemos o presente, temos um passado e esperamos ter um futuro, com as comunidades surdas é a mesma coisa.
A palavra “História” nasceu da Grécia antiga e significava “investigação”. O sujeito que pela primeira vez empregou esta palavra, com o sentido de investigação do passado foi o grego Heródoto, que é considerado o “pai da história”.
Isto é bastante interessante, pois é através de investigação que nós descobrimos e obtemos as respostas de como o povo surdo vem pensando, produzindo e se relacionando ao longo do tempo.
1- Existem na equipe de Letras/Libras sujeitos surdos trabalhando? Quem são eles?