SINAIS MÁGICOS

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Língua Brasileira de Sinais I Por Ronice Muller de Quadros, Aline Lemos Pizzio e Patrícia Luiza Ferreira Rezende

A questão do movimento nas línguas de sinais
Enquanto as pesquisas de aquisição de língua de sinais por crianças surdas
revelam que as características fundamentais desta língua visual-espacial independem da
modalidade, não podemos deixar de lado o fato de que, apesar disto, há uma diferença
entre línguas faladas e sinalizadas e que o padrão auditivo e o padrão visual entram no
cérebro por canais separados. Assim, POIZER e BELLUGI (1989) fazem a seguinte
pergunta: como, então, estes dois canais aparentemente diferentes para analisar padrões
sensoriais sustentam um sistema lingüístico comum? Para tentar encontrar uma
resposta, eles decidiram estudar as diferenças entre a maneira como sinalizantes e nãosinalizantes
percebiam movimento.
A hipótese dos pesquisadores era de que as experiências de uma língua visualespacial
podiam modificar a percepção dos elementos da linguagem da mesma maneira
que a experiência em uma língua falada modifica a percepção destes elementos. Para
isso, o primeiro passo foi isolar os movimentos dos sinais através de uma adaptação da
técnica desenvolvida para estudar como as pessoas percebiam movimentos do corpo
humano. Assim, eles colocaram nove pontos de luz (um na cabeça, um em cada ombro,
cotovelo, punho e ponta do dedo indicador) no corpo de um sinalizante vestido todo de
preto, fazendo movimentos em uma sala escura, para que fosse possível para
sinalizantes nativos identificar o caráter lingüístico dos movimentos feitos por outro
sinalizante. Com este sistema, seria possível estudar questões básicas sobre a relação
entre percepção de movimento e processamento de informação lingüística. Isto porque o
caráter espacial das línguas de sinais adiciona características à ASL, que possibilitam a
aplicação de vários processos gramaticais simultaneamente, através de movimentos.
Assim, os autores iniciaram sua busca por modificações perceptuais associadas à
experiência com a língua de sinais, utilizando o sistema com pontos de luz em
indivíduos ouvintes que não conheciam língua de sinais e com indivíduos surdos
sinalizantes desde a infância. Com esta técnica, apenas os pontos de luz eram visíveis.
Informações sobre configuração de mão, expressão facial ou outra informação visual
não eram percebidas. Os sujeitos viam os movimentos em grupos de três e deveriam
identificar os dois movimentos que fossem mais similares. Os pesquisadores, então,
aplicavam uma análise matemática complexa aos resultados que os fizessem identificar
certas características dos movimentos, as quais deveriam ser utilizadas pelos indivíduos,
tanto surdos como ouvintes, para distingui-los. Dentre estas características estão: a
direção, a extensão, a repetição e o plano dos movimentos.
Após a análise dos resultados, foram encontradas muitas diferenças entre surdos
e ouvintes no que se refere às características dos movimentos utilizados na avaliação de
similaridade realizada por eles. Entretanto, a maior diferença estava no padrão global
das características dos movimentos que os dois grupos de indivíduos acharam
importantes ao fazerem suas avaliações. As características dos movimentos que se
destacaram para os sujeitos ouvintes refletem uma predisposição natural para olhar os
movimentos humanos, enquanto aquelas que se destacaram para os usuários da ASL
representam um conjunto de efeitos desta predisposição e da experiência lingüística.
As alterações perceptuais, então, parecem ser a conseqüência usual de aquisição
de um sistema lingüístico formal, independentemente do modo de sua transmissão. Os
resultados encontrados pelos autores confirmam a hipótese por eles levantada: de que a
experiência modifica a percepção dos elementos da linguagem de acordo com a
modalidade.

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